Alta surreal do aluguel “expulsa” diarista de Ribas: “Era morar ou comer”
Residindo em Ribas do Rio Pardo há trinta anos, a profissional da limpeza Simone Cristina Vieira, de 54 anos, foi compelida a mudar-se para Campo Grande devido ao aumento exorbitante dos aluguéis. Em um dilema angustiante, ela se viu confrontada com a seguinte questão: "O que é mais prioritário para mim: ter um lar ou conseguir alimentação adequada?".
Enquanto muito é discutido a respeito do investimento vultoso da indústria de celulose na cidade, localizada a 103 km da capital, Simone entrou em contato com o Campo Grande News para dar voz aos trabalhadores que estão na base da hierarquia salarial e que se veem desamparados diante do aumento vertiginoso dos custos de moradia.
"Residi em Ribas por 33 anos, sempre em habitações alugadas. Há dois anos, morava em uma edícula espaçosa, equipada com lavanderia, banheiro, quarto, sala e cozinha, até a chegada da Suzano. Após isso, houve um desequilíbrio sem precedentes, e essa mesma edícula agora é alugada por R$ 3 mil para pessoas de outras regiões. No entanto, nem todos nós somos engenheiros", lamenta.
Em uma tentativa subsequente, ela passou a dividir um aluguel de R$ 2.300 com uma amiga. No entanto, não pôde arcar com os R$ 1.150 que lhe cabiam nessa partilha, tendo em vista sua renda mensal de R$ 2.800. "Não consegui mais encontrar um lar com um preço acessível".
Há oito meses, a única alternativa foi mudar-se para Campo Grande, para um bairro próximo à saída para Três Lagoas, onde conseguiu alugar um imóvel por R$ 650. Agora, ela se desloca semanalmente para Ribas do Rio Pardo, onde se hospeda na casa de uma amiga e divide seu tempo entre o trabalho de limpeza e uma função em um restaurante.
Apenas nos fins de semana, ela retorna a Campo Grande, onde encontrou uma moradia que não consome a totalidade do seu salário. "Ao longo da semana, de segunda a sexta-feira, trabalho em Ribas. Só posso me alojar na casa da minha colega, mas ajudo com as despesas. Devido à minha idade, fica mais difícil conseguir emprego formal", declara Simone.
Nesta quinta-feira (dia 10), diante de um anúncio de "aluga-se", mais uma vez se depara com a frustração. Uma habitação com cozinha, quarto e banheiro está sendo oferecida por R$ 2.300 por mês. "E eles dizem isso sem o menor constrangimento, é absolutamente absurdo", protesta.
Com o auge da construção da fábrica da Suzano, um projeto que já contou com um investimento de R$ 14,2 bilhões e tem previsão de conclusão até junho de 2024, a população da cidade cresceu em cerca de 10 mil habitantes.
Na busca pelo lucro máximo enquanto o dinheiro flui, os moradores estão deixando a área urbana para viverem com seus pais que residem em sítios e chácaras. Em alguns casos, o aluguel que chega a R$ 6 mil por mês se torna uma espécie de economia para os filhos, na expectativa de que o aumento vertiginoso dos preços eventualmente se estabilizará.