Interceptação flagrou vereador de Ribas dizendo que Polícia Civil transferiria desafeto político de investigados por corrupção
Vereador acabou perdendo cargo de chefia e áudio levanta suspeita de que organização alvo do Gaeco teria influência ou apoio no Governo Renata Portela
As investigações por suposta organização criminosa e corrupção na Câmara de Vereadores de Ribas do Rio Pardo, município distante 97 quilômetros de Campo Grande, chegaram em uma tentativa de transferência de servidor público estadual de cidade. O parlamentar, que é policial civil, teve o mandato colocado em risco sob possível influência de outros vereadores com políticos influentes, em meados de julho de 2022, segundo aponta a investigação.
Ligação telefônica interceptada entre o vereador Anderson Arry (PSDB) e uma outra pessoa indica a movimentação entre os parlamentares. “To sabendo de uma conversa que estão querendo pegar o Christoffer e transferir daqui de Rio Pardo. Botar o Christoffer de Polícia em outro lugar. Estamos mexendo esse pauzinho aí também”, diz o parlamentar em trecho gravado.
“Porque se ele sair daqui, vai ter que escolher, ser vereador ou Polícia, porque pra ser vereador tem que morar no lugar, né? E se manda ele lá pra Porto Murtinho”, disse ainda. O vereador chega a afirmar “Estão fazendo uma jogada aí”.
A transferência de um policial civil cabe ao Governo do Estado, por meio da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública). Em julho de 2022, data da gravação, ocupava o cargo de governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o secretário já era Antonio Carlos Videira, ainda no cargo.
Influências do ‘alto escalão’
Ainda na denúncia, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) colhe depoimento de uma testemunha, que lembra que o prefeito tinha como base na Câmara apenas a vereadora Rose, que é do Psol, e Christoffer.
Então, essa testemunha chega a citar que soube dessa tentativa dos parlamentares em transferir o colega de cidade. Até mesmo o prefeito, quando ouvido pelo Gaeco, confirmou a informação de que os parlamentares tentavam remover Christoffer.
O Midiamax teve informação de que essa tentativa partiu dos vereadores, com auxílio de políticos de maior influência. No entanto, não houve a transferência do policial.
Em outro momento, o prefeito ainda vai além quando fala sobre a oposição. “Desde o começo foram oposição. Havia resistência, havia resistência grande. Até porque, a resistência partidária e havia, inclusive, orientações é… me parece que orientações do alto escalão para que dificultasse a administração. Agora eu não sei dizer propriamente quais foram essas orientações”.
Quando questionado de onde partiam as orientações, o prefeito cita que são pessoas acima dos vereadores, no âmbito partidário. Depois, é questionado sobre os partidos que a oposição integrava e cita “Bom, o Tiago é PSDB, o Anderson é PSDB e o Nego é PSD”.
Ele se refere a Tiago do Zico, Anderson Arry e Álvaro Andrade dos Santos, conhecido como Nego da Borracharia.
O Midiamax acionou o secretário Antonio Carlos Videira, via WhatsApp, sobre conhecimento dessa tentativa de transferência. Até o momento não houve retorno. O espaço fica aberto para manifestação.
A reportagem também acionou o vereador Christoffer. O parlamentar disse que o processo tramita em sigilo e que foi orientado pela defesa a não se manifestar sobre o tema.
O prefeito Danieze afirmou que “O processo corre em segredo de Justiça e não posso manifestar justamente por não ter conhecimento de sua integralidade”.
Já o presidente da Câmara, Luiz do Sindicato, foi acionado via WhatsApp e não retornou. O espaço segue aberto para manifestação.
Ao Jornal Midiamax, a Sejusp afirmou que “o tema não foi tratado na Sejusp, pois remoções são discutidas e realizadas pela DGPC. As remoções feitas pela Sejusp são apenas qdo o servidor é removido para a secretaria e não no âmbito das unidades da PC”.
As demais informações da Matéria do Midiamax já foram divulgadas em matérias anteriores em nosso site.